segunda-feira, 16 de abril de 2012
Metamorfose ou Como a Fantasia Sobreviveu às Tormentas do Tangível
Há menos de dois anos eu era outra pessoa. Tinha sonhos e ambições quase completamente diferentes dos que possuo hoje. O tempo molda, o espaço adapta. Eu era só um estudante do terceiro ano, me preparando para a frieza seletiva objetiva do vestibular. Era um tempo de pura lógica lançando sua sombra em seres ilógicos.
Jovens adultos, velhas crianças, adolescentes sem nada a perder e com tudo a disperdiçar, cheios de ambições e sonhos – alguns reais, outros nem tanto – que talvez nunca fossem se realizar. Corações abertos para paixões imaturas, mentes abertas para um novo mundo; Um mundo que mostrava-se tão perto quanto longe. Teríamos que lutar pelo que mais almejávamos: Uma vaga em uma faculdade. Um passaporte para o futuro.
Será?
Muitos de nós lutaram e falharam. Outros ficaram atrás da batalha, acomodando-se, descansando. No meio destes últimos, alguns conquistaram a vitória. Sem esforço. Sem suor. Sem luta. Eu fui um destes.
Será?
As vezes eu me pergunto se mereci, me pergunto se estou satisfeito, se não foi tudo uma piada de mal gosto. Nunca soube responder; Talvez nunca saiba. Mas desde jovem venho, repetidamente, aprendendo uma lição importante. A vida cobra seu preço.
Sonhos morrem, ambições caem, outras tomam seus lugares. Pessoas mudam e, por mudarem, continuam as mesmas. Para cada pequeno obstáculo ultrapassado sem a menor dificuldade no passado, uma muralha se ergue. Dificuldades que não tivemos de enfrentar tornam-se grandes sombras em nosso futuro. Quem nunca precisou escalar pequenas paredes terá dificuldade em subir grandes montanhas. É como uma pequena crisálida, que necessita de todas as suas forças para sair do casulo e se tornar uma forte mariposa; Mas se receber qualquer sorte de ajuda para sair, mesmo que com a melhor das intenções, não terá forças para viver na Natureza selvagem. A vida cobra seu preço.
Sinto-me nostálgico por ter deixado um pedaço tão imporntante de mim para trás. Sinto-me orgulhoso de estar hoje lutando batalhas que não vivi no passado para construir meu futuro. Sinto-me amedrontado por não saber o que o amanhã guarda. Afinal, se eu mudei tanto em tão pouco tempo, como saber se a pessoa que sou hoje viverá para contar minha história daqui para frente?
Ontem eu conhecia novas pessoas, vivia novos sonhos, cultivava velhas paixões - que talvez nunca sejam verdadeiramente deixadas para trás -, lutava por outros ideais. Queria ser um médico-escritor, não para escrever sobre medicina, afinal, sempre fui um grande amante de fantasia, mas para poder viver na beirada de dois mundos. Um real, sólido e coletivo, e um só meu, intangível e abstrato.
Hoje trabalho numa fria realidade, dura quando deve ser, mas que também sabe se apresentar dócil quando necessário. Quanto as viagens fantásticas que eu sentia tanto prazer em fazer? Se resumem a meros pitacos de inocência quando a nostalgia consegue se sobrepujar – mesmo que em raros momentos – à gigantesca e sufocante massa de realismo que se apodera do meu ser.
O que serei amanhã, só posso indagar. Minha única certeza é que, não importa o quão real minha vida tornar-se-á de agora em diante, ou o quão rápido fria lógica apoderar-se-á de minha mente, meu coração sempre pertencerá a antiga e maravilhosa Fantasia. E enquanto assim for, meus sonhos e paixões mais antigas e secretas viverão dentro de mim.
E eu vivi feliz para sempre.
Fim.
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Um comentário:
Cara... sério, seu texto está de chorar (no bom sentido, ta HUAHUAHU). É meu amigo, a vida é assim... muitas vezes não sabemos dizer se estamos ou não no caminho certo, mas vivemos dia-a-dia, um após o outro. Mas nunca se esqueça de não deixar suas paixões , sua criança interior morrer frente a magnitude e dureza da vida. Faça do seu caminho na medicina o melhor possível e nunca esqueça a sua essência, a sua raíz, o que faz você ser o Gustavo que todos conhecem e curtem. Que no final de tudo, todos nós, possamos ser felizes para sempre =)Continue a escrever assim, cara ;)
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