segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Paul McCartney


Eu sinceramente devo estar a pelo menos 20 minutos em frente ao computador tentando pensar em algo pra escrever, mas eu simplesmente não consigo. Não dá pra descrever, mesmo, e sinceramente, não estou acreditando até agora que eu fui...

Tudo o que eu posso dizer por enquanto é obrigado, obrigado eu ter tido a chance de ir, obrigado pelo Paul vir ao Brasil, obrigado pelos Beatles terem aparecido no lugar certo, na hora certa e até obrigado pela vida. Eu fico realmente feliz e animado quando eu escuto o quarteto de Liverpool, e desde o show é isso que eu tenho feito. Músicas maravilhosas que fazem meu dia mais alegre estão permeando minha cabeça a todo momento, seja cantarolando “Yesterday” na van ou cantando “I’ve Just Seen a Face” na chuva.

Parece que foi ontem que eu comecei a escutar suas músicas e me surpreendi com seu som, nunca tinha escutado algo tão bom na minha vida, pra mim aquilo era algo inovador(e olha que estávamos no início dos anos 2000). Bem, sem enrolar mais, ao show.

Pois é, eu fui no show do dia 21/11/2010, com certeza a noite mais feliz da minha vida, pois como um amigo meu me disse eu não fui só no show do Paul McCartney, eu fui no show de 1/4 dos Beatles, o conjunto que me fez gostar de música, minha banda favorita, meu Beatle favorito. Foi sim tudo o que eu esperava, mas também foi muito mais do que eu poderia imaginar. Coberto de brincadeiras e danças por parte dos artistas, inclusive um arranjo musical improvisado na hora “Ohh São Paulo” divertindo todos os presentes.


As várias horas de viagem de Volta Redonda até São Paulo depois das 4 longas horas da prova da UFRJ, além das 5 horas de espera dentro do estádio, valeram a pena no instante em que Paul pisou no palco, iniciando o show com a maravilhosa seqüência de músicas "Venus ans Mars/Rock Show" e "Jet" que tirou todos os Beatlemaníacos da inércia e colocou-os para pular, gritar, cantar, chorar. Logo em seguida o simpático senhor de 68 anos pôs-se a falar, conversando com o público, utilizando de um português previamente treinado, carregado de sotaque, mas com o eterno charme inglês(que prevaleceu até durante as olhadas dele para o texto escrito em letras garrafais perto dele).

Logo depois disso teve-se início “All My Loving”, a primeira música dos Beatles que eu tive o prazer de escutar ao vivo. A massa cantava uníssona esse grande clássico junto ao seu Criador, aquele sim foi um momento inesquecível. Camisas, bonés, tênis, até calças e meias eu vi com emblemas e fotos do Quarteto sendo usados por fãs que viviam desesperadamente um dos momentos de mais satisfação em suas vidas. Assim como eu.

Rápidamente me perdi do pequeno grupo que conheci e do meu amigo Julio, mas isso não importava mais, eu havia encontrado meu Axis Mundi, o Centro do Mundo, e estava feliz. Não demorou muito também para fazer novas amizades que foram perdidas e reencontradas durante aquela movimentação constante de massa.

Não vou falar de todas as músicas do show, mas algumas em especial marcaram a noite, como “Drive My Car” que conseguiu retirar em poucos segundos toda animação de quem ainda não tinha se encantado antes(se é que tinha alguém assim), pois lá éramos todos irmãos, todos fãs unidos por um único amor, o amor pela boa música. “Let Me Roll It” me deixou um pouco mais relaxado, mas ainda sim feliz, eu estava me sentindo absolutamente realizado, o que durou até o aperto no coração com a belíssima “The Long and Winding Road”.


Peço desculpas sinceras, não estou conseguindo mesmo transcrever pra cá a montanha russa de emoções que senti durante aquele fantástico evento, como posso descrever a alegria de “I’ve Just Seen A Face” e a nostalgia de “Blackbird”? É impossível também colocar em palavras o amor que foi sentido em “My Love”, quando Paul McCartney disse as seguintes palavras em português: "Eu escrevi esta música para minha gatinha Linda, mas esta noite é para todos os namorados". Impagável. Inapagável.

Mas esse amor logo foi substituído por uma repentina saudade quando o “Beatle Bonito” disse: “Esta é para meu amigo John” e começou a tocar “Here Today”. Choro, elogios, agradecimentos, melodia. Foi tudo o que eu ouvi naquela noite. O ídolo se foi, mas nunca nos deixou.


Novamente felicidade e agitação chegaram com a música “Dance Tonight” e as engraçadíssimas dancinhas do baterista Abe Laboriel Jr. que demonstrou simpatia e senso de humor ao se levantar na bateria e desviar por alguns segundos a atenção de nosso estimado astro da noite.

Mas quem disse que esta alegria haveria retirado completamente a nostalgia do show? Esta retornou com as palavras ““Esta é para meu amigo George” seguida por Something e tocantes imagens do talentoso guitarrista, compositor e cantor dos Beatles, George Harrison, que no coração dos fãs deixou mais um espaço vazio.


Grande surpresa eu tive ao escutar “Band On The Run”, música que eu não pensei que seria tocada no show, mas foi e mais uma vez foi acompanhada pela massa. Logo depois uma sessão com algumas das melhores músicas que já ouvi, "Ob-la-di, ob-la-da", "Back in the USSR", "I've Got A Feeling", "Paperback Writer" e “A Day In the Life”, que tiraram de mim todas as minhas energias, mas meu eu cansado e sedento por mais não poderia nem imaginar o que viria pela frente, a verdadeira mega sessão que fez meu coração parar. E voltar.

Outra homenagem ao amante da paz John, com a única “Give Peace a Chance” em que milhares de balões brancos foram acendidos simultaneamente como um pedido, uma súplica por um desejo em comum, paz.

Não conseguir acreditar na realidade quando eu escutei com meus próprios ouvidos a música “Let It Be” que representa como a vida deveria e deve ser, arranjo que levou novamente milhares ao choro uníssono.

E enfim a música que eu estava mais ansioso para assistir ao vivo, a magnífica “Live And Let Die” que, mesmo eu tendo esperado por ela durante todo o show, me deixou impressionado e boquiaberto com o grandioso show de fogos de artifício que eu já vi na vida. Posso ter visto maiores e mais bonitos, mas nunca vi um tão grande em significado e lindo no coração como aquele em que os fogos esquentaram não só meu corpo, mas minha alma.


E porque não encerrar esta sessão com a clássica e amada “Hey Jude”? Música que não importa o quanto tocar, nunca ficará enjoativa, música que ressoa esperança e amor. Emociona com união e sonoridade. Foi algo que não pode ser humano, aquele momento foi divino, perfeito. E foi então, deixando os fãs cantando como nunca cantaram, que a banda se despediu.

Mas não foi só, não era suficiente nos tirar do mundo mortal, nos levar pelas nuvens, fazer-nos sentir flutuando pelas casas dos Deuses. Era necessário nos trazer de volta. E isso foi feito, com um Bis.

Em seu retorno a banda tocou “Day Tripper”, “Lady Madonna” e “Get Back”, deixando o público novamente no ápice da energia e felicidade. Fãs cantavam, casais dançavam, até os sérios seguranças se mostravam satisfeitos. E foi então que novamente partira, e novamente regressaram.

Desta vez provocando choro geral, se alguém tinha conseguido agüentar com secura nos olhos e amargura no coração até aquele momento desistiu ao ouvir aquela música, aquele símbolo, aquele eco que até agora persiste. “Yesterday”. Agradeço de verdade por eu ter tido a chance de escutar aquela melodia. Valeu a pena.


Mas quem disse que este momtento puro ficaria no ar por muito tempo? Rapidamente foi substituída por acordes novos acordes, desta vez mais agitados e provocativos, uma música antiga com um toque novo, algo que nos fazia pensar “Não é possível, de onde vem tanta energia?”. A energia veio de “Helter Skelter”. E tomou conta de todos.

Mas como tudo o que é bom tem que acabar nos veio o anúncio, as últimas músicas. "Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band” e “The End" vieram com um aviso prévio de encerramento, não falado, mas sentido. Paul brincou perguntando se nós não estávamos cansados, se não queríamos dormir, voltar pras nossas casas. Na ponta da língua de todos estava um forte “não”, sabíamos que sentiríamos falta do Ex-Beatle.

E ao sair do palco segurando em uma mão a bandeira do Brasil e na outra um urso de pelúcia, Paul McCartney tropeçou e caiu. A preocupação foi geral, medo de ter acontecido algo com aquele homem inumano envolto por uma luz especial. Mas nossa preocupação durou pouco, o Beatle se levantou e ergueu novamente os itens que segurava em sinal de triunfo. E naquela noite, ele havia mesmo triunfado.

Cantamos, rimos, choramos, pulamos, gritamos, alegramo-nos, agradecemos. Foi definitivamente a melhor noite, o melhor show da minha vida. Não espero mais nada de nenhum outro posterior, sei que por mais que seja grandioso não se equiparará. Com certeza aquela noite não será esquecida, nem por mim, nem por ninguém. Pois aquilo não foi só um concerto musical, foi elevação, fraternidade e amor. Aquele foi um Beatle.